Mencionado pela primeira vez no ensaio “Black to the Future” de Mark Dery, o Afrofuturismo tem sido nos últimos meses mencionado em vários círculos, motivado, principalmente, pelos cenários e indumentária enfatizados pelo filme Black Panther. Centrado na diáspora Africana, Mark Dery, tentou, através de várias entrevistas a criativos africanos da altura, olhar para o futuro especulativo e fictício em África, colocando questões como:
Pode uma comunidade cujo passado foi deliberadamente apagado e cujas energias foram subsequentemente consumidas pela busca de traços legíveis de sua história, imaginar possíveis futuros? Além disso, a propriedade irreal do futuro, não pertencerá já aos tecnocratas, futurólogos, designers e cenógrafos – brancos – que projectaram nossas fantasias colectivas?”
Mark Dery em “Black to the Future”
O Afrofuturismo cruza ficção científica, tecnologia e antigas mitologias africanas e, apesar de ser mencionado inicialmente por Mark Dery, as suas nuances artistiscas e estéticas eram já apresentadas por várias personalidades a partir de 1950, como o músico Sun Ra, que introduziu o imaginário espacial, filosofia cósmica, e as influências africanas, enfatizando o seu fascínio pelo Antigo Egipto nas suas musicas, actuações e interpretações de Jazz. Mais recentemente, a estética Afrofuturista evidencia-se em trabalhos como os ensaios fotográficos de Osborne Macharia, arquitecto de formação, ou na música de Janelle Monáe, que reflecte inclusive nas capas dos seus álbuns o fascínio pela tecnologia futurista.


O que torna o Afrofuturismo significativamente diferente da ficção científica padrão é o facto de estar mergulhado em antigas tradições africanas e na identidade negra. A narrativa que caracteriza simplesmente uma personagem negra, num mundo futurista, não é suficiente. Para ser “afrofuturista”, deve estar enraizada e celebrar, sem preconceitos e condicionantes, tanto a singularidade como a inovação da cultura negra/africana.
Apesar de existir uma representação maior na pintura, design, moda e na música, o Afrofuturismo é evidente em várias formas de arte, cultura e literatura, incluindo a Arquitectura. Tendo os seus primeiros exemplares estéticos nos edifícios do movimento moderno erguidos no continente africano entre as décadas de 50 e 70. Actualmente, começamos a perceber que, consciente ou inconscientemente, estão a surgir Arquitectos africanos que evocam o afrofuturismo nas suas abordagens conceptuais.

Dentro do mundo da arquitectura, são exemplos actuais da estética Afrofuturista, os nomes como o do Arq. Krancis Kéré, responsável pelo mais recente Pavilhão na Serpentine Gallery, do Arq. Kunlé Adeyemi, que venceu o Leão de Prata pelo seu projecto da Escola Flutuante de Makoko, o artista visual e arquitecto Olalekan Jeyifous, que cria “intervenções arquitectónicas especulativas em espaços e superfícies urbanas”, sendo responsável pela imagem de destaque da plataforma African Mobilities.


Hoje, o termo está a ser adoptado, adaptado e re-interpretado em todo o continente, assim como na Diáspora, considerando na arquitectura e urbanismo, a ficção cientifica, geopolítica, tecnologia, mitologia e inovação africana.
É um re-aproveitamento artístico da narrativa africana pós-colonial através da integração de elementos históricos, cultura presente e futuras aspirações, usando narrativa, fantasia e ficção para destacar a identidade africana”
Osborne Macharia
O crescimento do Afrofuturismo pode ser um momento marcante para designers e arquitectos africanos, sendo também fundamental na progressão e desenvolvimento da cultura do continente.
2 Comentários
Parabéns CEICA.como docente da Escola Superior de Arquitectura e Urbanismo do ISCTEM/Mocambique-Maputo gostei das várias iniciativas CE seria interessante criar oportunidades de parceria.. saudacoes academicas.
Cara Maria Rosário, muito obrigado pelo seu comentário. O “The Sanzala” não tem qualquer vinculo com o CEICA. Somos uma plataforma digital que surge da necessidade de promover e divulgar as várias formas de arquitectura angolana e africana no geral.